ENCONTROS E DESPEDIDAS
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant
Mande notícias
Do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando...
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero...
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
Lá lá Lá Lá Lá...
A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
Para esta análise estudei quatro versões da música Encontros e despedidas de Milton Nascimento e Fernando Brant, a saber: Cantada pelo próprio Milton, na voz de Simone em dois momentos diferentes de sua vida e pelos dois juntos em show.
A música foi composta em 1980 para um balé do grupo belo horizontino Corpo para o espetáculo “O último trem”, cantada na época por Zezé Mota.
Em 1981 Simone coloca-a em seu álbum “Amar” cantando-a em estilo bolero, gênero que muito admira, dando uma conotação de despedida, mas sem tristeza. A música tem ritmo e harmonia. Sua textura ficou bem organizada com a presença de castanholas e piston que deram aspecto de contraste na intensidade do som. Qualquer pessoa ouvindo-a não tem como recusar o balanço do corpo ou o convite a bailar; tanto a voz de Simone quanto a música, são estimulantes e vêm carregadas de sensualidade como as demais músicas do álbum, que é uma característica daquele momento emocional e afetivo de Simone. Até então foi considerada pela crítica como uma cantora de elite, já nesta década incluiu em seu repertório boleros, sambas, conquistando plenamente o povo. Seus shows tornam-se imensamente assistidos.
Já em 1985, Milton Nascimento grava o LP que denominou Encontros e despedidas, sendo logicamente esta música uma das faixas. Milton como bom mineiro que é, embora nascido na cidade do Rio e Janeiro, conhece a temática de nosso estado e nesta música apresenta um assunto muito visto e vivido nos séculos passados nas minas gerais bem como em outros estados brasileiros que foi a estação ferroviária.
Tendo sido criado na cidade de Três Pontas, morado em Belo Horizonte, acredito que muito presenciou de encontros e despedidas nas estações de cidades mineiras.
Na letra Milton e Fernando falam dos sentimentos das pessoas que desembarcam trazendo notícias e desejando serem bem recebidas. Uma estação é lugar de movimento com todo tipo de gente chegando, partindo, despedindo; é um local que abriga duas situações: a de quem chega e a de quem parte.
Nas cidades do interior não havia outro local além da estação ferroviária, para o desembarque das novidades; era o palco de notícias e vida, daí a fala dos autores “A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar”.
Na voz de Milton Nascimento há nostalgia, um toque de tristeza claramente sentida desde a introdução pela presença de flauta, batidas e uma segunda voz feminina fazendo eco curto. O arranjo é agradável, leve, existindo melodia entre os instrumentos e vozes. Existe textura na melodia que acompanha o vai e vem da vida numa estação.
A letra nos faz refletir sobre os aspectos material e espiritual de nossa existência, a vida e a morte, com a possibilidade de comunicação entre quem está na condição humana e quem já não é mais.
Letra e melodia são extremamente bem construídas, retratando a vida, os sentimentos e as emoções do cidadão comum e a voz de Milton dá um toque especial à canção.
É necessário lembrar que esta música foi gravada tanto por Simone quanto por Milton no início da década de 80, nos últimos anos da ditadura. Em 1985 quando é lançada por Milton, Tancredo Neves, político mineiro, foi eleito indiretamente à presidência da República do Brasil após 21 longos anos de ditadura militar. Foi ela então criada durante este período difícil do Brasil e neste momento político e social de mudanças, ambos os cantores vem falar dos encontros e despedidas que ocorreram no país durante estes longos anos; dos brasileiros e brasileiras que morreram e não mais voltarão para usufruir da liberdade, fala dos que saíram do país e não desejam mais retornar por já terem construído raízes noutras terras. Essa estação pode ser o Brasil com tudo que nosso povo viveu naqueles tempos.
Anos mais tarde Encontros e despedidas é gravado num show de Simone. Ela continua cantando-a como bolero, porém, inseri piano e viola, retirando a carga de sensualidade de 1981. Seu cantar está mais sério, intensidade menor e textura mais simples, transmitindo a idéia de um momento mais íntimo com seu público percebendo-se que o show é em ambiente fechado. Não há orquestra, mas grupo musical. A música continua bonita e agradável, um convite a bailar.
Na quarta gravação estudada Milton Nascimento e Simone compartilham o palco num show também em ambiente fechado. Não há orquestra e sim grupo musical e as vozes de ambos realçam mais que os instrumentos. Não há clima de nostalgia como na primeira gravação de Milton em 1985 e nem a sensualidade exacerbada presente na primeira gravação de Simone em 1981.
Um piano introduz a apresentação, acompanhado de bateria e acredito ser um baixo também. Transmitem a idéia de um encontro prazeroso de dois amigos. Em ambas as vozes o som é mais curto em relação às gravações anteriores e de menor intensidade. Há uma sequência organizada de sons, numa batida idêntica em toda a duração da música, com textura bem estruturada, porém mais simples que nas gravações individuais.
Em qualquer tempo ambos deram e darão interpretações maravilhosas desta música que faz uma união perfeita com suas vozes e estilos.
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